No Reino da Pardalada

Um pardal de nome Mário Pardal fez tais estragos no telhado de uma casa velha que os sobreviventes, sem coragem para saírem dos ninhos, estavam quase a morrer de vergonha.
Tornando-se muitíssimo séria a situação, resolveram reunir-se em assembleia para o estudo da questão, uma vez que o opróbrio não os deixava sair à rua nas noites de sexta-feira.
Aguardaram para isso certa noite em que o Mário Pardal andava pelos telhados, cantando trovas à Lena d’ Água e fecharam-se a sete chaves numa árvore do Bolão...

- Penso – disse um deles – que o melhor meio de nos defendermos das tristes figuras do Mário Pardal é atar-lhe um badalo ao pescoço. Assim, quando ele se aproximar, o badalo denuncia-o e fugimos a tempo.

Palmas e bravos saudaram a luminosa ideia do Romão Pardal, por ventura o mais asisado. O projecto foi aprovado por unanimidade em Assembleia Geral e na presença de quase todos os pardais, mesmo dos que raramente piam, contando com a ausência do avô Lucilino Pardal. Só votaram contra uma pardalinha de seu nome Ana Castra Pardais e um pardal bastante casmurro, Viternum Pardal, que pediu a palavra e disse:
- Está tudo muito certo. Mas quem vai amarrar o badalo ao pescoço do Mário Pardal?

Silêncio geral...

Um desculpou-se por não saber dar nós. Outro, porque era recém-doutorado e não podia fazer tal coisa. Outro porque era loiro e dava muito nas vistas. Todos, porque não tinham coragem.
E, assim, a assembleia se dissolveu no meio de geral consternação e o bando da pardalada continua a cagar sentenças pelos telhados dos vizinhos que nada têm a ver com os efeitos da gripe pardalária.

La Fontaine Brioso